No dia 28 de Janeiro vou participar no SEMIME 2011 (V Seminário - "Exclusão Digital na Sociedade de Informação") como orador convidado. O programa do evento já está disponível.
Os temas principais deste seminário não são o centro da minha investigação e por isso este convite foi um desafio muito interessante. Numa abordagem que provavelmente será um pouco diferente da maioria das outras comunicações, não vou explorar as dificuldades inerentes à "Exclusão Digital". Vou falar essencialmente de oportunidades relacionadas com o desenvolvimento da "Cultura Digital" no Ensino Superior e o papel que, na minha opinião, as instituições de ensino devem desempenhar.
Com a devida autorização da organização, fica aqui disponível o texto que escrevi para o evento. Um muito obrigado à Mónica e ao Luís pela discussão do tema e revisão do texto!
"Conceitos como info-exclusão ou analfabetismo digital são expressões que, numa primeira análise, poderão parecer incompatíveis com o actual contexto do ensino Superior. De facto, estas instituições disponibilizam um nível aceitável de acesso a equipamentos e sistemas informáticos, sendo que, o indivíduo tipo, não tem dificuldades significativas na sua utilização.
Contudo, e apesar do rápido desenvolvimento que as Tecnologias da Informação e Comunicação têm vindo a apresentar, os níveis de literacia digital ainda são analisados com base em parâmetros associados ao domínio de ferramentas de produtividade, à facilidade no acesso, navegação e pesquisa na Internet, à capacidade de utilização dos sistemas de gestão académica e ao domínio de uma plataforma de ensino a distância.
Tecnologias mais recentes, nomeadamente as relacionadas com a Web Social, são desconhecidas ou consideradas numa perspectiva meramente lúdica e desprovidas de utilidade prática. Alguns conceitos mais recentes, como, por exemplo, Ambiente Pessoal de Aprendizagem – Personal Learning Environment (PLE) – e Identidade Digital, são ainda desconhecidos de uma larga maioria dos indivíduos, o que contribui para uma utilização superficial do enorme potencial de aprendizagem e acesso à informação existente na Web.
No contexto actual das TIC o conceito de literacia digital tem que evoluir para um conceito de cultura digital onde, muito mais do que o domínio técnico de algumas tecnologias, a preocupação se deverá centrar na forma como o indivíduo é capaz de utilizar essas tecnologias em seu proveito, na capacidade de partilhar o seu conhecimento com os outros e na capacidade de utilizar essas tecnologias para se relacionar e colaborador com os seus pares.
Infelizmente, a actual oferta tecnológica das instituições ainda não incorpora esta visão. Na sua grande maioria, a oferta institucional resume-se à disponibilização de serviços formatados pelas necessidades formais da instituição, ignorando as necessidades dos indivíduos e/ou a sua formação neste novo conceito de utilizador da Web. Esta barreira tecnológica institucional transmite ela própria uma mensagem aos indivíduos, assente numa visão/concepção daquilo que a instituição entende como útil, que se contrapõe à oferta externa, livre e aberta, mas não suportada pela instituição.
A plataforma Sapo Campus tem como objectivo principal contribuir para a diminuição desta barreira tecnológica, fornecendo às instituições de ensino uma plataforma integrada de serviços, livre e aberta a todos os indivíduos da comunidade e com um desenvolvimento centrado nas necessidades desses indivíduos.
Como reflexão para esta comunicação, consideramos que a experiência de utilização, formal ou informal, do Sapo Campus no contexto de formação, investigação ou trabalho académico pode constituir, por si só, uma formação informal ao nível de uma pós-graduação em cultura digital. Nesta plataforma os indivíduos são estimulados a experimentar e reflectir sobre temas tão diversos como a partilha e colaboração em ferramentas da Web 2.0, o desenvolvimento de um ambiente pessoal de aprendizagem e o percurso para a construção de uma identidade digital."