No início do Mestrado em Multimédia em Educação (2004?) senti a necessidade de colocar em prática uma estratégia de avaliação que me permitisse avaliar o contributo individual dos elementos de um grupo de trabalho. Esta necessidade era reforçada porque era a primeira vez iria leccionar uma disciplina em regime de b-learning, onde o trabalho prático era realizado essencialmente a distância. Se já era complexo avaliar os grupos em regime presencial, pareceu-me óbvio que seria muito mais difícil nessa nova aventura que iria começar.
Das várias pesquisas que efetuei sobre estratégias de auto e hetero avaliação são de destacar duas soluções que me foram apresentadas na altura:
Com base nestes contributos acabei por desenvolver a minha própria estratégia que, resumidamente, passa por uma única questão à qual os alunos têm que responder individualmente utilizando uma grelha muito simples de responder e posteriormente tratar.
A questão:
Para cada elemento do seu grupo de trabalho (inclusivamente quem está a avaliar), indique qual das seguintes classificações melhor se aplica, tendo em atenção o contributo desse elemento para o resultado final do trabalho da disciplina.
A grelha:
5 - Muito superior à média
4 - Superior à média
3 - Idêntico à média
2 - Inferior à média
1 - Muito inferior à média
0 - Não participou
Para receber estes dados utilizei várias estratégias, tais como: envio de email, preenchimento de um formulário online ou o envio da folha de excel partilhada aqui.
A formulação da questão tem evoluído e sido adaptada por várias pessoas. Inicialmente foi algo que desenvolvi para as minhas disciplinas do MMEd mas rapidamente foi adoptada por mim noutras disciplinas de NTC e por outros colegas em várias disciplinas de todos os ciclos de ensino da Universidade de Aveiro.
Como colocar em prática?
Nesta estratégia, a opinião transmitida pelos alunos é meramente qualitativa. São eles que têm a possibilidade de informar os docentes sobre o contributo que cada um deu para o resultado final que conseguiram obter no trabalho de grupo. No final, é da responsabilidade do professor compilar essa informação e verificar se consegue obter informação suficiente que lhe permita diferenciar as notas dos alunos de um modo sustentado.
Obviamente que nem sempre é possível! Mas, da minha experiência na sua aplicação, na grande maioria dos casos, rapidamente conseguimos obter uma visão geral dos diferentes contributos (se existirem grandes divergências dentro de um grupo a solução passará pela reunião e discussão entre todos).
Uma pequena demonstração da sua aplicação...
Alguns jogadores da equipa do SCP da época 1986/87 vão avaliar o seu contributo para o histórico 7-1 :)
Manuel Fernandes | Mário Jorge | Vitor Damas | Fernando Mendes | |
Manuel Fernandes | 5 | 5 | 4 | 5 |
Mário Jorge | 4 | 4 | 3 | 5 |
Vítor Damas | 2 | 2 | 3 | 5 |
Fernando Mendes | 2 | 1 | 2 | 5 |
Nesta tabela, em cada coluna foram colocados as avaliações enviadas por cada elemento. Por exemplo, olhando para a primeira coluna com dados, podemos observar que o Manuel Fernandes deu 5 a ele próprio, 4 ao Mário Jorge, 2 ao Vítor Damas e 2 ao Fernando Mendes.
Deste modo, observando os dados de uma linha, muito rapidamente conseguimos ficar com uma ideia das diferentes opiniões sobre o contributo de cada elemento. Por exemplo, o Manuel Fernandes foi classificado de um modo bastante positivo por todos os elementos.
Normalização dos dados
Olhando para os dados da tabela anterior com mais atenção facilmente percebemos que o Fernando Mendes não compreendeu este exercício (e isso é algo que acontece com vários elementos de vários grupos). Não está em causa que o desempenho do SCP foi excelente! Neste exercício não se pretende comparar desempenhos entre os diferentes grupos/equipas, pelo que - obviamente - se alguém considera que nenhum elemento do grupo deve ser destacado então a nota a atribuir a todos deve ser 3.
Do ponto de vista matemático, o ideal seria garantir que a média das notas dadas por qualquer elemento é próxima de 3. Por esse motivo, e embora tenha alguns colegas que não concordam, acho muito útil tentar normalizar as respostas de modo a garantir a tal média aproximada de 3. Mas sem exagerar! Por exemplo, a média das avaliações do Manuel Fernandes não dá exatamente 3 mas o exercício foi bem colocado em prática e por isso não é necessário alterar os dados.
Manuel Fernandes | Mário Jorge | Vitor Damas | Fernando Mendes | |
Manuel Fernandes | 5 | 5 | 4 | 3 |
Mário Jorge | 4 | 4 | 3 | 3 |
Vítor Damas | 2 | 2 | 3 | 3 |
Fernando Mendes | 2 | 1 | 2 | 3 |
A avaliação individual
Normalmente, utilizo este exercício para diferenciar as avaliações individuais entre +2 e -2 valores (em alguns casos também já apliquei diferenças de +3 a -3).
Nos resultados anteriores é óbvio que o Fernando Mendes optou por não colaborar na avaliação e não se preocupou em diferenciar as avaliações. Esta situação acontece várias vezes, principalmente com os elementos que tiveram um contributo menos relevante para o trabalho de grupo. Nestas situações, não existindo uma opinião idêntica por parte de todos os elementos do grupo, o melhor será não ter em grande consideração este contributo.
Com base nesta informação já devidamente normalizada, após uma análise cuidada, a avaliação final poderá ser algo deste tipo:
Manuel Fernandes | Mário Jorge | Vitor Damas | Fernando Mendes | Ponderação | |
Manuel Fernandes | 5 | 5 | 4 | 3 | +2 |
Mário Jorge | 4 | 4 | 3 | 3 | +1 |
Vítor Damas | 2 | 2 | 3 | 3 | -1 |
Fernando Mendes | 2 | 1 | 2 | 3 | -2 |
Aqui poderia ser útil uma descrição do meu processo para a decisão das ponderações finais mas não é algo simples de transformar num algoritmo. Dos resultados obtidos, julgo ser relevante reter os seguintes pontos que me ajudaram a chegar à ponderação final:
O resultado final
Admitindo que a avaliação do SCP enquanto equipa teria sido de 18 valores (o que seria mesmo assim injusto dada a goleada histórica!), as classificações individuais seriam as seguintes:
Nota equipa | Ponderação | Nota individual | |
Manuel Fernandes | 18 | +2 | 20 |
Mário Jorge | 18 | +1 | 19 |
Vítor Damas | 18 | -1 | 17 |
Fernando Mendes | 18 | -2 | 16 |
Conclusões
Esta é apenas uma pequena demonstração do modo como esta estratégia de auto e hetero avaliação me tem ajudado a atribuir classificações individuais mais justas para todos. O caso aqui apresentado é um exemplo "simples" e, mais tarde, talvez volte a escrever sobre este assunto para destacar outros casos que podem ser mais complexos de decidir.
Para já, se estiverem interessados, podem utilizar, adaptar ou modificar este trabalho livremente. Se o fizerem, a única coisa que gostava era que deixassem um comentário a descrever onde e como o vão utilizar e, se possível, os resultados que obtiveram da sua aplicação.
PS. Do jogo dos 7-1 só me recordo mesmo do resultado. Provavelmente estou a ser muito injusto para o Vítor Damas e para o Fernando Mendes. As minhas desculpas a ambos!
PS2. Outras coisas que escrevi relacionadas com avaliação, neste caso sobre avaliação da participação online...
PS3. Obrigado à Mónica Aresta pelo trabalho de revisão do texto.